O lugarzinho onde cresci. A escola primária, pertinho de casa. As pequenas árvores que desenhavam o caminho; hoje são imponentes árvores, gigantescas. A BR estadual que separava o meu bairro da escola. Os alunos que se amontoavam sempre no mesmo horário. 12h30min.
Isso tudo virou lembranças. São apenas lembranças.
Os dias que corriam, ao longo do ano, sem deixar tristezas. Não existiam lágrimas; a não ser aquelas causadas por quedas de crianças ou as broncas dos pais. – Os meus pensamentos foram bem longe.
Em um dia desses, que se arrastavam sempre rotineiros, tudo mudou. A vida, de repente, tinha virado de cabeça para baixo.
Descobrir um segredo. Ele estava em mim, mas tenho a sensação de que ele não era para mim. É algo bem paradoxo. Nunca consegui explicar. Não sei quem me contou ou me mostrou. Sei apenas que fiquei sabendo...
Final de inverno. A manhã está quente. O céu num azul glorioso, sem nenhuma nuvem para pintar o firmamento.
Eu vestia uma calça jeans preta. A minha camiseta preferida, listrada amarelo e azul-claro. O cabelo ainda amarrotado, uma palidez no rosto, a expressão cansada dos olhos, declaravam o mal-estar que o meu corpo sentia.
Olhava-me no espelho. O meu reflexo me olhava, calado ele me invadia, me cortava por dentro com uma vibração estranha; senti um rio correr em mim, as águas escorregando, lisas, sobre pedras...
O mundo girava lá fora. As pessoas iam e vinham. Os carros e outros veículos gritavam sem parar... A vida acontecia na sua mais pura rotina; No meu quarto era o mesmo. O mesmo caos. A mesma rotina, triste e sem graça.
Senti um incômodo no pescoço, cansei de olhar para a janela, ela nada me dizia... Virei o rosto para o espelho. Fixei os olhos novamente no reflexo. “Esse sou EU?” – Pensei em como eu tinha mudado... A imagem continuaria ali, fixada no espelho. Calada, imóvel. Continuaria a guardar o nosso segredo.
Saí. Virei de encontro à porta. O espelho não refletiu mais os meus olhos e nem as minhas lágrimas.
Senti um alivio por ter confidenciado o meu segredo com o reflexo. Fechei os olhos, reprimir as lágrimas e soltei um sorriso no canto dos lábios.
“Ele jamais falará. O meu reflexo mudo... Seremos somente eu e ele, sempre e sempre.” – Pensei.
By Alan Cesário
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