segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

No meio do oceano

Toda despedida gera solidão e insegurança. Não interessa a situação ou as circunstâncias, as despedidas são muito mais profundas do que um aceno. Não estamos falando do primo que vai voltar para casa ou do amigo que irá para outro país, estamos falando do rompimento de um laço entre duas pessoas.

As despedidas, de fato, implicam na quebra de um vínculo. Veja bem, a função dos vínculos, além de unir pessoas de uma forma mais afetiva, é garantir a sensação de segurança dessa parceria. A maioria dos divorciados pensaram cinco ou dez minutos antes de assinar os papéis de separação; os namorados, quando se separam, juram que perderam um amor eterno; ou quando um hamster ou outro animal vem a morrer, o pensamento de insubstituível quase grita.

Os vínculos agasalham os corações dos solitários. Por mais que a sensação de liberdade venha com um sorriso imenso no rosto, aquele frio na barriga é mais forte, como se fosse o primeiro dia de aula, ou o primeiro beijo. As despedidas não falham nisso: elas sempre conseguem nos provar que somos amadores. É quando vemos que o fim de um namoro de adolescência e o fim de um casamento de anos estão mais próximos do que parecem.

Sim, existe toda uma vida a se viver, não nego. Se o vínculo se rompeu, houveram razões e houve um contexto e uma série de situações que ocasionaram o corte, mas, esquecemos que, do mesmo modo que se rompeu, um dia se formou. E passa tudo como um filme, daquele primeiro encontro na rua até aquela conversa fria e sem vida que colocou um fim em tudo. Quando penso nisso, fico feliz pelos momentos bons, mas, fico mais triste por ter lembrado deles apenas no fim. São as boas memórias que conservam um vínculo e todos sabem disso. Então por que as coisas boas são sempre prioridades de final de relacionamento? E o durante?

Quando decidimos romper um laço, sim, colocamos os aspectos negativos desse nó em primeiro lugar. Nem percebemos que as coisas boas que vincularam duas pessoas ainda estão lá, esquecidas atrás de um pomposo coquetel de reclamações. As pessoas se convencem que estão mudadas e que por isso não podem prosseguir, mas, quando as saudades atacam, percebemos que pode estar um pouco tarde.

O mundo é muito grande e formamos MUITOS vínculos ao longo da vida. Eu só queria deixar claro que eu acho que a eficiência de um nó, para prender algo, vai de quem o fez. O nó tem dois laços, e isso é tão sugestivo que parece que foi Deus que inventou o nó, só para criar a sacada de que não existe nó bem feito com um laço só.

Por outro lado, a vida continua e deixamos para trás os vínculos que passaram. Mas, toda despedida gera insegurança e solidão. É o poder do vínculo, que subestimamos o tempo inteiro, e que só paramos para olhar quando as saudades cutucam a pontinha do coração. Mas, não vamos confundir. Se uma pessoa desfez um nó com um grande sorriso no rosto, ela apenas cortou um nó cego. Os vínculos agasalham os corações. Nós cegos, assim como romances com quem não presta, são pinga nos sentimentos: na hora é lindo, mas, a ressaca bate à porta logo mais.

Texto de Fran

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